Papa Francisco reúne-se com membros da Cúria Romana

O papa Francisco recebeu, pela terceira vez, os membros da Cúria Romana para as felicitações de Natal. No encontro, realizado nesta segunda-feira, 21, Francisco apresentou os remédios para tratamento das "doenças curiais", a partir da palavra misericórdia. Tais “antibióticos” são 12 pares de palavras oferecidas como subsídio prático para a “vivência frutuosa do tempo de graça do Natal e do Ano da Misericórdia” e, ao mesmo tempo, para que o serviço à Igreja seja fecundo. “É uma lista que inicia desde um acróstico da palavra Misericórdia, para que seja nosso guia e farol”, explicou Francisco.

Em seu discurso, o papa recordou os últimos encontros com a Cúria. Em 2013 destacou o profissionalismo e o serviço como “aspectos importantes e inseparáveis do trabalho da Cúria”, indicando São José como modelo”. No ano passado, falou sobre algumas tentações e males, o “catálogo das doenças curiais”. Segundo o pontífice, alguns desses males continuaram a se manifestar na Santa Sé durante este ano, “provocando muita dor a todo o corpo e ferindo muitas almas”.

Considerando que esses casos serão objeto de “sincera reflexão e medidas decisivas”, o papa indicou que a reforma seguirá adiante com determinação, lucidez e resolução.

“No entanto, até mesmo os escândalos não podem esconder a eficiência dos serviços que a Cúria Romana, com esforço, responsabilidade, diligência e dedicação, oferece ao papa e a toda a Igreja, e isso é um verdadeiro conforto”, considerou Francisco.

“Por isso, seria uma grande injustiça não manifestar um profundo agradecimento e necessário alento a todas as pessoas íntegras e honestas que trabalham com dedicação, devoção, fidelidade e profissionalismo, oferecendo à Igreja e ao sucessor de Pedro o consolo de sua solidariedade e obediência, com também sua generosa oração”, completou.

Voltar ao essencial

O papa, após, recordar os discursos, falou em “voltar ao essencial”, no início da peregrinação do Ano Santo da Misericórdia. Segundo Francisco, o Jubileu representa para a Igreja e para todos um forte chamado à gratuidade, à conversão, à renovação, à penitência e à reconciliação”. No contexto do Natal, “a festa da infinita misericórdia de Deus” apresentou o “Subsídio prático” para este momento.

As palavras propostas pelo papa em seu subsídio são: missionariedade e pastoralidade; idoneidade e sagacidade; espiritualidade e humanidade; exemplaridade e fidelidade; racionalidade e amabilidade; inocuidade e determinação; caridade e verdade; honestidade e maturidade; respeito e humildade; dadivosidade e atenção; impavidez e prontidão; e, por fim, fiabilidade e sobriedade.

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Depois de elencar os 12 pares de remédios para as doenças curiais, o papa dirigiu-se aos bispos e cardeais presentes reiterando que “a misericórdia não é um sentimento passageiro, mas a síntese da Boa Nova, é a opção dos que querem ter os sentimentos do Coração de Jesus, de quem quer seriamente seguir o Senhor, que nos pede ‘Sede misericordiosos como vosso Pai’”.

Francisco finalizou pedindo que a misericórdia guie os passos e inspire as reformas na Igreja, bem como as decisões. “Seja ela a ensinar-nos quando devemos avançar e quando devemos recuar um passo; seja ela a fazer-nos ler a pequenez das nossas ações no grande projeto de salvação de Deus e na majestade misteriosa da sua obra”, rogou.

Foi proposta, ainda, uma oração atribuída ao beato Óscar Arnulfo Romero.

«De vez em quando ajuda-nos recuar um passo e ver de longe.
O Reino não está apenas para além dos nossos esforços,
está também para além das nossas visões.
Na nossa vida, conseguimos cumprir apenas uma pequena parte
daquele maravilhoso empreendimento que é a obra de Deus.
Nada daquilo que fazemos está completo.
Isto quer dizer que o Reino está mais além de nós mesmos.
Nenhuma afirmação diz tudo o que se pode dizer.
Nenhuma oração exprime completamente a fé.
Nenhum credo contém a perfeição.
Nenhuma visita pastoral traz consigo todas as soluções.
Nenhum programa cumpre plenamente a missão da Igreja.
Nenhuma meta ou objetivo atinge a dimensão completa.
Disto se trata:
plantamos sementes que um dia nascerão.
Regamos sementes já plantadas,
sabendo que outros as guardarão.
Pomos as bases de algo que se desenvolverá.
Pomos o fermento que multiplicará as nossas capacidades.
Não podemos fazer tudo,
mas dá uma sensação de libertação iniciá-lo.
Dá-nos a força de fazer qualquer coisa e fazê-la bem.
Pode ficar incompleto, mas é um início, o passo dum caminho.
Uma oportunidade para que a graça de Deus entre
e faça o resto.
Pode acontecer que nunca vejamos a sua perfeição,
mas esta é a diferença entre o mestre de obras e o trabalhador.
Somos trabalhadores, não mestres de obras,
servidores, não messias.
Somos profetas de um futuro que não nos pertence».

Fonte: CNBB/ Rádio Vaticano e fotografia da AFP.