Carmelo, setenta anos

Ao contemplarmos hoje a capela do Carmelo, dedicada à Nossa Senhora do Carmo, e a seu lado a entrada do Mosteiro, localizados numa pequena encosta do bairro São Dimas, não imaginamos, como de fato, esta obra foi querida por Deus.

Desejada por Dom Ernesto de Paula, o nosso dinâmico e empreendedor primeiro bispo, que enfrentou muitos obstáculos para a sua concretização. Desde os entendimentos com o Carmelo Santa Teresa, de São Paulo, de onde vieram as fundadoras, falta de recursos, onde alocar as irmãs, ainda que provisoriamente, a construção do atual convento, entre muitos outros, não foram capazes de desestimular a fundação, muito pelo contrário, transformaram-se em degraus para a feliz concretização deste seu ideal apostólico.

Ao longo destes 70 anos, o louvor a Deus e as súplicas pelo seu povo em suas múltiplas necessidades foi uma constante jamais olvidada pelas Irmãs, não segregadas do mundo pelo recolhimento e pelas grades, como poderia pensar algum desavisado desta vocação, mas plenamente nele inseridas, como luz que se esparge a indicar a todos o caminho do céu.

Pode-se perguntar se ainda hoje há sentido a vida contemplativa? Sem dúvida alguma! Estes mosteiros são qual oásis no deserto, onde se encontra abrigo e acolhida para as nossas dores e angustias. Apesar de ser um pensamento escrito no século passado, continua atualíssimo este de são Paulo VI: “Ainda hoje a Igreja precisa da vida contemplativa. Precisa de quem permaneça no monte para ser deveras penetrado pelo fulgor que emana da Palavra de Deus, a fim de transmiti-lo a todo seu corpo. Precisa de almas que se mergulhem totalmente no colóquio e na intimidade com Deus”.

O Carmelo Reformado por santa Teresa de Jesus, tem uma particularidade toda singular que, de certo modo, o distingui das outras famílias religiosas contemplativas femininas, que é o de rezar e se sacrificar pelos sacerdotes. Ajudar aqueles que devem ser a imagem de Jesus Bom Pastor no exercício da sua árdua e muitas vezes incompreendida vocação. E esta tem sido, desde o século XVI, a missão do Carmelo Descalço. O da nossa “Noiva da Colina”, seguindo os passos de sua santa Reformadora, não foge à regra, além de apresentar na oração, as necessidades e sofrimentos do Povo de Deus. Se diz –e com muito acerto- que um Mosteiro Carmelita, embora inserido em uma realidade local, “a sua diocese é o mundo inteiro”.

Hoje na solene concelebração, presidida por Dom Devair Araújo da Fonseca serão colocadas no altar da Nova Aliança, a profunda gratidão a Deus, pelas mãos da Virgem do Carmelo e de são José, estes 70 anos de fundação deste Mosteiro e por tudo quanto as Irmãs realizaram pelo Reino, sem esquecer a todos os que estão implicados nesta fundação e na sua continuidade: bispos –de um modo particular- Dom Ernesto de Paula, sacerdotes, amigos e benfeitores, vivos e falecidos, sem esquecer as monjas que já cumpriram a sua missão, recordadas com saudade, reconhecimento e ternura.

Piracicaba, hoje particularmente agradecida, eleva ao Deus da vida sua prece para que recompense com amor aos que, ao longo destas sete décadas, se envolveram com empenho e denodo com a história deste Carmelo, particularmente às Irmãs que fizeram dele a razão da própria existência! A elas pedimos com confiança que continuem a implorar por nós. Desejamos de coração a cada uma delas: “vita, pax et salus perpetua”. José Eduardo Sesso, presbítero da Diocese de Piracicaba.

Pe. José Eduardo Sesso
Presbítero na Diocese de Piracicaba