“Eu te constituí como luz das nações para levares a salvação até os confins da terra” (At 13,47)
“Eu te constituí como luz das nações para levares a salvação até os confins da terra” (At 13,47)
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Para ler o Evangelho de São João – 1ª parte

Publicado em 24 de setembro de 2020 - 16:18:35

O evangelho de João é bem diferente dos três primeiros evangelhos. Cada evangelho tem seu jeito próprio e João apresenta vários aspectos exclusivos: longos discursos em vez de parábolas; sete sinais em vez de muitos milagres. Enquanto os milagres mostravam o reinar de Deus, os sinais em João revelam a glória de Deus. Os sinóticos descrevem apenas uma viagem de Jesus a Jerusalém, concentrando seu ministério principalmente na Galileia, enquanto João fala de três páscoas nas quais Jesus participou em Jerusalém, atuando fortemente na Judeia.

A tradição atribui a autoria do Quarto Evangelho ao apóstolo João, embora o mesmo evangelho não nos dê o nome do escritor, ele nos mostra que pelo menos ele deve ter sido um companheiro íntimo de Jesus: "o discípulo a quem Jesus amava". A mesma tradição fala da Ásia Menor e de Éfeso como locais de origem deste evangelho, por volta dos anos 90 d.C.

O Quarto Evangelho contém as expressões "Eu sou", nas quais Jesus revela sua divindade. Em Mt, Mc e Lc ouvimos os discursos de Jesus sobre o futuro, mas em João a ênfase está na decisão que cai no aqui e agora, de acordo com a posição que cada um assume diante de Jesus.

Encontramos o objetivo do Evangelho em Jo 20,31: "Mas estes (sinais) foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome", o que significa um chamamento para o seguimento de Jesus, o vivente. Assim, quem crê em Jesus Cristo se torna possuidor da vida eterna, ou seja, participa da mesma vida de Deus que é comunicada pela união com Jesus, de maneira semelhante à forma como os ramos estão unidos à videira (Jo 15,1-8). Manifestar a vida é o propósito da revelação de Deus: "Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16). A vida que os discípulos e discípulas têm: "Quem crê no Filho tem a vida eterna" (Jo 3,36)– também é garantia da Ressurreição: "Esta é a vontade de meu Pai: Todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia ” (Jo 6,40).

A vida eterna consiste no conhecimento do Pai e do Filho, na fé: "Esta é a vida e terna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17,3). E esse conhecimento é ao mesmo tempo participação no amor entre o Pai e o Filho: "Eu os fiz conhecer o teu nome, e continuarei a fazê-lo, a fim de que o amor que tens por mim esteja neles, e eu neles esteja" (Jo 17,26). A fé que comunica a vida eterna ao homem está, portanto, inseparavelmente ligada ao amor, pois consiste precisamente em entrar no relacionamento de amor entre o Pai e o Filho: "Como o Pai me amou, eu também lhes amei. Fiquem no meu amor" (Jo 15,9). Por isso, também deve se manifestar no amor fraterno, o único mandamento que Jesus dá no evangelho, no qual ele se coloca como modelo (Jo 15,9-12).

Para uma melhor leitura, dividimos o Quarto Evangelho da seguinte forma:

1) Prólogo: 1,1-18
2) Livro dos sinais: 1,19 – 12,50
3) Livro da Glória: 13,1 – 20,31
4) Epílogo: 21,1-25

O Quarto Evangelho foi gestado em comunidades muito vivas que desenvolveram uma verdadeira escola espiritual que veremos na segunda parte. Paz e bem a todos.

Pe. Demetrius dos Santos Silva
Biblista e docente do Curso Diocesano de Teologia

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