Neste ano celebramos o 54º dia Mundial dos Meios de Comunicação Social, promovido pela Igreja pós Concílio Vaticano II. A data é sempre celebrada na Solenidade da Ascensão do Senhor, que ocorreu em 25 de maio. A cada ano, o Santo Padre escreve sobre temas relacionados às mídias. O Papa Francisco, quando escreve esta 54ª mensagem aos comunicadores, propõe o tema da narração e expressa de um modo muito sincero que precisamos “respirar a verdade das histórias boas”. Inspirado no livro Êxodo, o tema deste ano é “Para que possas contar e fixar na memória (Ex 10,2). A vida se faz história”. Tema profundamente existencial que, segundo o Santo Padre, nos faz ver que toda narração é humana e também divina, porque na Encarnação Deus se faz história.
Nós nos tornamos conhecidos através de nossas narrativas e toda narração influencia o pensar e o agir humano. Por isso, é preciso compreender que somos “tecelões”, ou seja, segundo a mensagem deste ano, somos aqueles que, ao contar histórias, estamos tecendo um texto, perpetuando na história momentos de heroísmos e derrotas, memórias que encorajam e nos movem a enfrentar os desafios e, possivelmente, moverão também outras pessoas. Certamente nos faz pensar como o ser humano é capaz de transformar-se, porque se descobre e se enriquece com as tramas da vida. Este tear forma uma história com situações variadas e desafiadoras, mas é preciso discernimento para encontrar a verdade.
Nem todas as histórias são boas, recorda Francisco, mas nem por isso podemos deixar de crer que somos capazes de comunicar o bom e o belo. Algumas ações comunicativas enfraquecem a bondade e a compaixão, como o termo técnico storytelling, muito utilizado no marketing, através do qual cria-se um vínculo emotivo com o consumidor. O Pontífice compara este termo com a narrativa de Gn 3,4, na qual Adão e Eva são tentados e enganados pela serpente, ou seja, um meio usado para manipular e enganar. Outro termo que nos sugere pensar a respeito das narrativas que devem superar o mal é deepfake, na qual a falsificação alcançou um intenso nível de sofisticação - manipula o rosto e a voz de modo realista - e é uma preocupação ética quanto à verdade. Este, como tantos outros malefícios, danificam o tear da comunicação da vida humana e despoja o ser humano de sua dignidade. Por isso, o Santo Padre evoca sabedoria para patrocinar e criar narrativas belas, que nos recordem quem realmente somos, especialmente a heroicidade anônima do dia a dia.
Por fim, o Papa Francisco nos fez reconhecer a História das histórias: como Deus criador e narrador se revela à criação, na pessoa de Jesus Cristo. A humanidade inteira é chamada a ser geradora de história juntamente com Ele e, para isso, somos tecidos e aprimorados, num convite a tecer continuamente a vida e tecer a maravilha que somos. Quando escolhe o tema do Êxodo é para nos recordar que Deus intervém na história do seu povo, é fixar a memória de geração em geração. Desse modo, Deus continua a tornar-Se presente ao comunicar-Se. O Verbo se fez narração e, através da Encarnação, nos dá uma nova maneira de tecer a nossa história, convidando-nos a acolher Sua palavra, através das narrativas dos Evangelhos, configurando-nos a Ele.
A humanidade merece uma narrativa à altura que Jesus a elevou, cada história é obra do Espírito Santo e cada uma pode renascer como obra prima. E como nos faz pensar Francisco, Deus fixa em nós o bem e leva ao coração humano o Seu amor. Este movimento é re-cordar. Nas conclusões, o Santo Padre escreve que há histórias que pedem para ser partilhadas em todas as linguagens e por todos os meios, e que o Espírito Santo renova em nós o que somos aos olhos de Deus. Por isso, é oportuno narrar-se a Deus, que nos faz entrar em seu olhar de amor compassivo por nós e pelos outros.
Pe. Anselmo Cardoso Martiniano
Mestre em Teologia da Comunicação
Diretor de Comunicação da Diocese de Piracicaba
Animador Diocesano da PASCOM
Pároco da Paróquia Senhor Bom Jesus de Rio das Pedras