Com a celebração do Domingo de Ramos, celebrado neste 05 de abril, iniciamos a profunda caminhada espiritual da Semana Santa. Ela é um tempo forte de profunda experiência espiritual e deve ser como um tempo de retiro espiritual. Sem dúvida, neste ano, a nossa Semana Santa será especial, pois este tempo difícil que estamos vivendo nos unirá ainda mais ao sofrimento de Jesus e à sua solidão na dor e, com Ele, ressurgiremos vencedores do mal e da morte.
A liturgia da Semana Santa tem uma riqueza espiritual única. Não se trata de folclore ou de simples tradição que, aliás, tem também seu valor mas, trata-se de uma riqueza infinitamente maior que éa renovaçãoe aprofundamento da nossa fé pelas graças espirituais que recebemos através das ações litúrgicas.
Na liturgia revivemos e experimentamos misteriosamente a graça amorosa de Deus nos atingindo. Algumas vezes a ação de Deus atinge também os nossos sentimentos ou ideias. Mas, na maioria das vezes, não sentimos nem percebemos nada sobretudo quando Ele atinge somente o mais profundo de nossa alma. O agir de Deus em nosso ser e no nosso mundo vai infinitamente além daquilo que podemos sentir ou entender com a nossa pobre razão. Na sagrada liturgia alimentamos e expressamos a nossa fé.
Na Semana Santa há uma torrente de graças espirituais a medida em que acompanhamos os passos de Jesus que deu sua vida para nos salvar. Seguindo o relato dos Santos Evangelhos, começamos com o Domingos de Ramos, saudando Jesus que entra em Jerusalém humildemente montado em um jumentinho(Mc 11, 7-11). Curiosamente, essa mesma multidão que aclamará Jesus com seus ramos nas mãos gritando: “Hosana ao Filho de Davi, bendito o que vem em nome do Senhor!” será a mesma que, na sexta-feira seguinte, gritará: “Crucifica-o”.
Neste ano, infelizmente, não poderemos celebrar a Missa do Crisma, que reúne em torno do Bispo Diocesano todo o clero e o Povo de Deus. Nessa missa única e especial sãoabençoados os três óleos que serão usados para os sacramentos nas várias paróquias e capelas:o óleo dos catecúmenos (batismo), óleo dos enfermos e o óleo do crisma. Por orientação da Santa Sé (Vaticano) esta Missa foi a única celebração da Semana Santa que foi adiada, pois ela, necessariamente, requer a participação de todo o clero.
Chegamos ao auge da Semana Santa que é o Tríduo Pascal. Na quinta-feira santa revivemos a última ceia onde Cristo instituiu a Sagrada Eucaristia e, por isso, depois de dois mil anos nós obedecemos à sua ordem: “Fazei isto em memória de mim”(Lc 22,19). Naquela ceia, Jesus também fez um gesto profundamente simbólico ao lavar os pés dos discípulos e nos exortou: “Pois bem, se eu lavei os pés de vocês, eu que sou o Senhor e o Mestre, vocês também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei um exemplo, para que vocês façam do modo como eu fiz” (Jo 13,14).As toalhas do altar serão retiradas e ele ficará desnudado até o sábado, em sinal de luto.
Na sexta-feira santa, dia de Jejum e abstinência, celebramos a paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesse dia não se celebra a missa em nenhuma igreja do mundo, somente a celebração da Paixão do Senhor às 15h, hora em que Jesus morreu. É feita a leitura de todo o relato da Paixão do Senhor, em seguida Cristo é adorado e beija-se a cruz onde Ele foi crucificado. A celebração termina em profundo silêncio.
No sábado santo temos o ápice do tríduo pascal onde celebramos a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. A celebração começa com o templo no escuro. Acende-se o Círio Pascal, grande vela que simboliza o Cristo Vivo, luz do mundo. Opresidente da celebração adentra a igreja escura e canta: Eis a luz de Cristo! As velas e as luzes do templo se acendem. Cristo está vivo, a morte foi vencida, a luz do bem destruiu as trevas do mal.
Provavelmente, em razão do isolamento social, não poderemos celebrar a Semana Santa com a presença dos fiéis mas, com certeza, estaremos todos unidos espiritualmente e também pelos meios de comunicação e pela internet.
Dom Rubens Sevilha, OCD
Bispo da Diocese de Bauru