A liturgia da noite de Natal apresenta a leitura do Profeta Isaías: “o povo que jazia nas trevas viu uma grande luz”(Is 9,1). Uma claridade desconhecida ilumina as trevas que envolviam Belém. Os pastores envolvidos por esta luz, escutam a mensagem e vão encontrar o menino que está envolto em faixas, deitado em uma manjedoura. Ele é o sol que ilumina a gruta e o mundo todo. É a luz que não se apaga, como o sol da meia noite nos polos, nunca se põe.
O cristão é chamado a ser luz em um mundo tomado pelas trevas. “Outrora éreis trevas, agora sois luz no Senhor” (Rm 13,12). A escuridão que toma conta do mundo pode ser identificada no consumismo, no individualismo, na competição. O povo de Belém também só pensava nos seus interesses e não viu Cristo nascer. A escuridão se manifesta também na corrupção, na falsidade e na mentira. Pode ser vista até na liturgia cheia de superficialidade. O templo todo enfeitado também será destruído. Cristo veio para superar toda treva.
Herodes tenta apagar esta luz. Mas a necessidade do homem acaba sendo a oportunidade de Deus. A estrela dos magos supera os planos macabros de Herodes e chega a Belém. Nenhuma força contrária há de apagar esta luz. Todo ser humano é um Cristo em formação. Nele Cristo- luz se faz presente. Para perceber Cristo no mundo é preciso mudar o olhar e o coração.
Quando o cristão comunga o corpo de Cristo, vive como Ele e faz as coisas que Ele fazia é uma luz presente no mundo. As pessoas que se reúnem para escutar a Palavra de Deus formam um clarão no meio da sociedade. Os gestos de caridade que se multiplicam nas comunidades são luzes que enchem o mundo de esperança. Como no Natal, quando o divino toca a terra, aí se acende uma luz. Sem a luz, que é Cristo, o cristão será sempre uma estrebaria fria e escura, sem o canto dos anjos e dos pastores.
Já dizia Péguy: “há algo pior do que ter uma alma perversa, é ter uma alma habituada a quase tudo”. O Natal é envolto na superficialidade e consumismo. Seria muito ruim se o Natal não trouxesse nada de novo. Os anjos anunciam aos pastores uma grande alegria. Deixemo-nos surpreender pelo mistério de Belém. Deus se fez criança!
Dom Wilson Tadeu Jönck
Arcebispo da Arquidiocese de Florianópolis (SC)