Caro leitor, desde o primeiro artigo sobre este assunto, estamos refletindo que o dízimo é um ato de fé. Deus colocou no coração humano a semente da fé. Logo, a fé é um dom pessoal e graça de Deus: eu creio, enquanto resposta livre do homem a Deus que se revela, mas é ao mesmo tempo um ato eclesial, que se exprime na confissão: “Nós cremos”. De fato, é a Igreja que crê. Deste modo, ela, com a graça do Espírito Santo, precede, gera e nutre a fé do indivíduo.
A fé dá sabor e sentimento ao dízimo, pois se não acredito no que professo, o dízimo se torna apenas um ato solidário e nada mais que isto. O cristão católico consciente deve superar esta mentalidade de ajudar a Igreja. É comum se ouvir dizer “vamos ajudar a Igreja” ou “precisamos ajudar este padre”. Nós não ajudamos a Igreja, nós somos responsáveis por ela, porque a Igreja somos todos nós. Para nós, a fé vem antes da quantia partilhada. Não sou cristão porque sou dizimista, mas sou dizimista porque sou cristão. Assim, a quantia partilhada tem uma motivação que vem antes: a fé em Jesus Cristo e na sua Igreja.
O Documento 106 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) diz que o dízimo é um exercício de partilha, em que você se coloca disponível a cuidar das dimensões: religiosa, eclesial, caritativa e missionária.
Pela dimensão religiosa entende-se que, em nossa partilha do dízimo, estamos dizendo a Deus que temos consciência de nossa plena e total pertença a Ele. É nisso que consiste a espiritualidade do dízimo: ele amadurece e aumenta a nossa comunhão com Deus, já que vivemos conscientes de que a nossa segurança está Nele e não nos bens que possuímos.
Pela dimensão eclesial, é sabido que não é Deus que precisa de nosso dízimo, mas a Igreja presente no mundo, pois ela não tem como evangelizar, sem utilizar-se dos instrumentos adequados. Cabe a nós contribuir, para que se cumpra a missão deixada por Jesus de anunciar a boa Nova do Reino. Portanto, somos nós, clérigos e leigos, que fazemos com que a comunidade tenha o suficiente para se sustentar. Nenhum cristão batizado que tenha renda, seja ministro ordenado ou agente de pastoral, jovem ou idoso, está isento ou imune desta responsabilidade.
Pela dimensão missionária, entendemos que, sendo cristãos pela graça do batismo, todos somos chamados a evangelizar como discípulos missionários. Devemos superar a mentalidade de uma Igreja fechada em si mesma, realizando apenas uma pastoral de manutenção, indo ao encontro de quem deixou de participar e, também, daqueles que ainda não fizeram uma experiência profunda de Jesus Cristo em suas vidas. Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, cita uma reflexão de São João Paulo II, onde ele nos convidou a reconhecer “que não se pode perder a tensão para o anúncio àqueles que estão longe de Cristo, porque esta é a tarefa primária da Igreja. A atividade missionária ainda hoje representa o máximo desafio para a Igreja e a causa missionária deve ser (…) a primeira de todas as causas” (Evangelii Gaudium, 15).
Por fim, a dimensão caritativa que leva os dizimistas a fazerem o que Jesus fez: olhar com amor e se colocar a serviço dos mais necessitados. Como é possível que adoremos Jesus na Eucaristia e não o identifiquemos em quem sofre? É preocupante que uma comunidade invista somente em construções e não perceba o pobre que está a sua porta, como a parábola contada por Jesus sobre o rico e Lázaro (Lc 16,19-31). Uma parte do dízimo deve ser destinada aos menos favorecidos, seja pela assistência, seja pela promoção da formação, através de cursos que podem ser realizados em nossas comunidades.
Quando falamos sobre dízimo, não falamos apenas sobre dinheiro, antes devemos entender que o dízimo é parte integrante no processo de evangelização. A Graça e o Amor de Deus não têm preço e nem são produtos de comercialização junto aos cristãos. Deus nos oferece tudo de forma gratuita. Faça a experiência. Seja dizimista!
Pe. Sebastião Luiz de Souza
Ecônomo e Moderador da Cúria Diocesana