Durante a Vigília Pascal, realizada no Sábado Santo e chamada a “mãe de todas as vigílias”, as trevas vão, aos poucos, dando lugar à luz que se acende à porta da igreja. O Círio Pascal, aceso no início da liturgia, é uma imagem simbólica do Cristo Ressuscitado. Representa a luz do Filho de Deus, que vai vencendo as trevas do templo e a todos ilumina.
A grande vela iluminará nossas igrejas pelos próximos quarenta dias, no chamado Tempo Pascal, até a Festa da Ascensão do Senhor. Ao compor o Círio, depois de benzer o Fogo Novo, fazemos incisões significativas com cinco cravos, contendo grãos de incenso que simbolizam o perfume de mirra e aloés (cf Jo 19,39) com que José de Arimatéia e Nicodemos envolveram o corpo de Jesus e que penetraram nas cinco chagas de Cristo (dos pés, das mãos, do peito e da cabeça ferida por duros espinhos), bem como recordam o perfume que as Santas Mulheres levaram ao sepulcro na manhã da ressurreição (cf Lc 24, 1).
Também assinalamos o Círio Pascal com as letras alfa e ômega, a primeira e a última letras do alfabeto grego, pois, nesta noite, mais que em todas as demais, proclamamos que Cristo é o princípio e o fim de todas as coisas. Por fim, marcamos este belo símbolo com os numerais do ano em curso, 2019, proclamando a nossa fé na história e na perpetuidade do amor de Jesus. Celebrando mais uma Páscoa, podemos proclamar jubilosos: “Até aqui, o Senhor nos ajudou” (I Sam 7, 12), como afirmara Samuel, vitorioso, aos filhos de Israel, depois de enfrentar terríveis guerras dos filisteus contra o Povo de Deus.
Pela ressureição, os pés de Cristo e os nossos estão livres e curados para prosseguir os caminhos da fé. Suas mãos e as nossas estão desimpedidas para praticar as boas obras. A cabeça está curada e livre para dirigir todos os movimentos do corpo de Jesus e nosso, para pensar e ensinar as verdades da fé.
Esta é a nossa Páscoa, que nos dá força para enfrentar não somente as dificuldades criadas à Igreja por incrédulos ou opositores, mas também agir de forma transformadora na sociedade de hoje, marcada por tantos problemas sociais – a fome e a pobreza, a falta de condições dignas para tantos, o desemprego criado por irresponsabilidades políticas e pela corrupção – e por perigos graves contra a família e aos bons costumes, propagados por ideologias ateias e agressivas à pregação de Cristo.
Ao chegar a este estágio da história da humanidade, vendo oposições e agressões à Sua Igreja, não tenhamos medo, pois Ele venceu o pecado e a morte para sempre. Diante de tantas situações difíceis, às vezes de violência terrível, continuemos a propagar que o bem vencerá o mal, a graça vencerá o pecado e a vida vencerá a morte.
São Paulo, enfrentando oposições e perseguições em seu tempo, afirmou: “Por amor de Ti somos entregues à morte todos os dias; fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Contudo, em todas as coisas, somos mais que vencedores por meio daquele que nos amou” (Rom 8, 36-37).
Feliz Páscoa!
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo de Juiz de Fora